Corpo e alma: superando os extremos
Um dos grandes benefícios que a Teologia do Corpo realiza em nossa vida, é trazer para nós, uma visão positiva e integral da sexualidade humana. Mas para João Paulo II, trazer através da Teologia do corpo, essa visão positiva sobre a sexualidade, é necessário percorrer um caminho, que nos apresenta uma visão correta e integral sobre o corpo, ou seja, ele fala claramente que a Igreja nunca desprezou o corpo, como muitas pessoas pensam, nunca desprezou o sexo, nunca dispensou os desejos sexuais, nunca desprezou o matrimônio, nunca!
Mas também o cristianismo nunca supervalorizou o corpo, o sexo, o prazer na relação sexual, ou seja, o cristianismo nunca idolatrou o corpo e a sexualidade humana. A grande contribuição para uma visão positiva da sexualidade, que João Paulo II nos dá, é, justamente, nos apresentar uma visão correta e integral do corpo, e com isso nos ajudar a vencer aquele conflito que muitos de nós vivemos, e temos que superar, que é essa dicotomia (separação), que nós fazemos entre o corpo e a alma, nós separamos isso com muita facilidade, porque existe como que uma divisão dentro de nós, e isso é fruto do pecado original, entre a dimensão física e espiritual, é como se tivesse acontecido uma fissura, uma rachadura, e parece que existe um conflito dentro de nós, e muitas vezes, nos dobramos sob esse conflito, e não entendemos e não buscamos a origem daquilo que é a realidade do ser humano, que é ser uma união perfeita entre corpo e alma.
Totalidade unificada
Ser humano é uma maneira do espírito conviver com a matéria, ou seja, corpo e alma juntos, formam um único ser. Na verdade, nós nunca poderíamos falar do corpo e da alma separadamente, falamos de maneira didática, porque no ser humano elas são duas dimensões reunidas, formando uma totalidade, ou seja, um único ser. Porque todo ato humano tem consequências externas e internas, por exemplo: se uma pessoa me xingar, ela não vai me ferir apenas emocionalmente, mas pode trazer também um mal-estar, posso ficar ansioso, nervoso. Se uma pessoa me agredir fisicamente, não é somente a dor no meu físico que vou sentir, sinto essa dor também na minha alma. Tudo que um ser humano experimenta em seu nível físico, experimenta também no seu espiritual.
Essa totalidade existe, e o que nós temos que vencer? A separação. Principalmente os extremos, entre o desprezo do corpo e a supervalorização do corpo.
Extremos a serem vencidos
O primeiro é justamente o desprezo do corpo e da sexualidade, se queremos ter uma visão positiva sobre a sexualidade, precisamos ter uma visão correta sobre o corpo, então nós não podemos desprezar o nosso corpo. E é verdade que houveram tendências ao longo da história do cristianismo, de uma demasiada exaltação do espírito (em alguns grupos), em detrimento da corporeidade, posturas, comportamentos de algumas pessoas, que traziam um certo pessimismo sobre o ser humano, logicamente, ferido pelo pecado, onde o corpo e a sexualidade também deveriam ser rejeitados, deveriam ser desprezados, sobretudo na prática e na moral, começaram a condenar tudo aquilo que esteve relacionado ao corpo e à sexualidade, começaram a ver isso como pecado, como algo perigoso, ou no mínimo desprezível para quem quer ter uma vida de santidade mais elevada, ou uma vida espiritual mais elevada.
Mentalidade puritana
Essa mentalidade atinge muitos cristãos, sobretudo aqueles que querem viver uma vida mais espiritual, e essa mentalidade, muitas vezes, pega muitos de nós, principalmente pessoas que querem viver uma vida de santidade, uma vida casta, uma vida de pureza. Tudo isso é lindo, é maravilhoso e você tem que almejar isso!
O que você não pode, é cair no caminho do puritanismo. O puritanismo é aquela postura, onde a pessoa vê pecado em tudo, vê demônio em tudo, e também enxerga o mundo com os olhos manchados, os olhos embaçados, não vê a beleza e o dom de Deus na criação, ou seja, o puritano não concebe a sexualidade dele como um dom, mas somente como uma tarefa, como um dever. O dom e a tarefa caminham juntas, é preciso ter a noção do dever, mas é preciso acolher primeiro a sexualidade como um dom de Deus.
A Igreja sempre combateu
A Igreja nunca aceitou esse puritanismo, ela sempre combateu, e combaterá, todas as heresias que condenem e desprezem o corpo, na prática sempre houve grupos que acabavam se desviando, e não absorvendo o verdadeiro e genuíno ensinamento da Igreja. Mas a Igreja sempre se posicionou, em seus documentos, nos concílios, nos seus ensinamentos e no seu magistério, sempre se posicionou para reconduzir aqueles que eram, por exemplo: os cátaros-albigenses, os jansenistas, sempre teve uma postura clara, o cristianismo não despreza o corpo! O corpo é criado por Deus. O ser humano sim, foi ferido pelo pecado, corpo e alma, não somente no seu corpo.
Uma experiência
Não raro, percebo muitas vezes em meu contato com os jovens, casais e famílias, que muitos que querem viver uma vida espiritual elevada, acabam por querer desprezar demasiadamente os seus corpos, querem aniquilar a sua sexualidade, e muitas vezes viver uma vida espiritual totalmente desencarnada, e principalmente ver a tentação do demônio em tudo. Então quando a pessoa tem uma reação na sua sexualidade, pensa de imediato que está sendo tentada, quando tem uma reação própria, até fisiológica na sua sexualidade, ela pensa que precisa aniquilar essas reações. Sabemos que existe sim a tentação, existe à concupiscência e nós estamos inclinados ao erro, mas existe aquilo que é o dom de Deus, a beleza de Deus, a graça de Deus, que é a sua sexualidade, os hormônios, toda sua dimensão erótica, você precisa direcionar e aceitar o dom de Deus, aceita-la, orienta-la, direcioná-la e canaliza-la. Aceitar como um dom, mas também a tarefa de cuidar desse dom, você precisa zelar por eten voor een goede erectie musculos ou dinheiro esse dom, você precisa guardar esse dom. Portanto o puritanismo na história da Igreja, sempre esteve aliado com a heresia, o próprio São João Crisóstomo, quando ele falava da beleza e da santidade do ato sexual no matrimônio dizia assim: “essa coisa de você corar de vergonha, diante daquilo que é puro, é típico dos hereges”,ou seja, ele estava falando isso relacionado à relação sexual dos esposos, que se amam no leito conjugal.
É necessário vencer esse extremo!
Portanto vencer esse primeiro extremo do desprezo do corpo e da sexualidade é totalmente necessário. Mas também é preciso vencer um outro extremo, o extremo da supervalorização do corpo, supervalorização da sexualidade, supervalorização e idolatria do prazer… E isso ficará para o nosso próximo artigo.
Deus abençoe.